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Lei do Silêncio

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“Quero uma casa no centro da cidade, mas sem barulho de carros e aviões!” – disse alguém que acredita em unicórnios

Se há um pedido que ouvimos com frequência no mercado imobiliário é este: “Quero viver no coração da cidade, mas sem barulho de trânsito, turistas ou vizinhos barulhentos”. A resposta habitual? “Claro, e quer também uma piscina infinita e um unicórnio estacionado na garagem?”

O Som de Lisboa: Banda Sonora ou Prova de Resistência?

Lisboa tem tudo: história, gastronomia e um sistema de som integrado que não desliga nunca. Do elétrico 28 a rasgar as colinas ao inevitável concerto de obras diárias, passando pelo vizinho que decidiu virar DJ depois dos 40, a cidade nunca dorme – e quem cá vive, também não.

Queremos a animação das ruas, mas sem o vendedor de castanhas a apitar. Queremos morar no centro, mas sem turistas a arrastar malas às 6 da manhã. Queremos vistas para o Tejo, mas sem o vento que transforma janelas em tambores tribais. No fundo, queremos tudo, menos a realidade.

Lisboa, a Cidade Onde o Ruído é Ilegal (Mas Ninguém Diria)

Curiosamente, o ruído em Lisboa é proibido por decreto… desde 1957! Sim, há mais de seis décadas, um presidente da câmara decidiu que “é proibida a produção de ruídos, qualquer que seja a sua proveniência, suscetíveis de incomodar a população ou de perturbar o seu trabalho ou o seu repouso”. E, para que não houvesse dúvidas, detalhou que são “inúteis ou excessivos os ruídos não indispensáveis ao exercício normal das atividades e cuja intensidade ou estridência possam ser diminuídas”.

O problema? Bem, já na altura a fiscalização era uma miragem. Em 1957, um vereador indignado queixava-se de um cidadão que todas as noites, às duas da manhã, fazia um barulho infernal com o seu pequeno veículo – e tudo sob “o pasmo contemplativo do guarda de serviço”. Passaram-se 66 anos e continua tudo igual: há leis, há promessas de fiscalização, mas o som do motard rebelde às duas da manhã segue firme e inabalável.

O Ruído e o Mercado Imobiliário: Um Preço a Pagar

A verdade é que o silêncio tem valor – e muito. Uma casa numa rua sossegada pode valer substancialmente mais do que a mesma casa ao lado de uma rotunda infernal. Agentes imobiliários já sabem que “bem localizado e sossegado” é um paradoxo quase tão grande como “café descafeinado que dá energia”.

Se serve de consolo, o problema do ruído não é exclusivo de Lisboa – nem sequer da era moderna. Há milhares de anos que as cidades são barulhentas. O poeta romano Juvenal já se queixava do “tráfego imparável” de Roma, Júlio César chegou a proibir a circulação de carroças durante o dia, e na Londres do século XVI, tornou-se ilegal bater na mulher ou nos criados depois das nove da noite – não por razões morais, mas para não incomodar os vizinhos.

E em Lisboa? Bom, no século XIX, uma cronista francesa descreveu o país com uma frase deliciosa: “Não há festejos em Portugal sem salvas de artilharia. O rei tosse, canhão. Os príncipes espirram, canhão. Navio que entra, canhão. Navio que sai, canhão. Inauguração, seja o que for, canhão. Canhão e sempre canhão!”

A Solução? Aceitar ou Fugir

Então, o que fazer? Aceitar que viver numa cidade é abraçar o seu ritmo – e o seu barulho – ou procurar um refúgio longe do caos. Até lá, Lisboa continuará a ser a cidade onde se vive, se ama e, claro, se ouve de tudo um pouco.

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